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Retrospectiva pedagógica

A democracia não morreu, atacada com requintes de crueldade, agoniza. Contudo, enquanto houver um cidadão que acredite em transformações democráticas e igualdade social, o ideal de um país justo de fato permanecerá vivo e crescerá com vigor ainda maior. Sementes de justiça não podem ser ceifadas.

Não é de hoje que cartas marcadas estão dadas. Os mesmos figurões de sempre estiveram vigilantes, esperando o momento oportuno. Se o dia de hoje não aconteceu antes foi porque não havia as amarrações necessárias para usurpar a vontade popular.

Os que se interessam pelo país e acompanham a política de perto, sabem que desde o início pautas sociais sofreram para ser aprovadas. Sim, a menção é ao ano de 2003. A raiz deste golpe sempre esteve lá, mas ninguém viu, ou não quis ver.

Os abusos da era FHC, com índices negativos absurdos, a forte expectativa e a popularidade de Lula foram empecilhos para que os grupos das elites providenciassem sua retomada do poder logo de cara.

Ante ao cenário deixado pelo governo tucano, esses grupos corrosivos visualizavam que o Brasil estaria insustentável para a esquerda governar e estavam seguros de que logo retornariam ao poder. Não contavam que o contrário aconteceria e nunca vibraram com as conquistas feitas no país pelo governo petista.

O sonho de resetar as conquistas, entre elas a libertação do país do FMI, sempre esteve na pauta dos entreguistas que se empenharam e muito para desconstruir a imagem de tudo havia sido implantado.

Sim, queriam resetar para retornar ao padrão da submissão popular, que os manteve no poder por décadas.

Ao observar nas entrelinhas sempre foi possível visualizar a intenção do grupo, que se fortificou para, em 2016, consolidar seu intento.

Aliados da mídia alienadora, tais grupos corrosivos foram pouco a pouco ocupando espaço no cenário nacional como portadores de 'credibilidade', status conferido pelo alto poder de manipulação midiático.

Não é fácil administrar um país com grupos que não aceitam mudanças. O ranço conservador sempre foi um dos grandes problemas de toda história brasileira. Como fazer a população se decepcionar com governos que por ela foram legitimados?

É preciso entender: aos grupos da elite não bastava a retomada do poder. O passo para seu retorno deveria ser mais largo, ou seja, quebrar a confiança popular naqueles que trouxeram as propostas de mudança para uma sociedade que sempre esperou ser salva.

Provar aos cidadãos brasileiros que governos focados em justiça social nunca teriam êxito, tornou-se prioridade. Afinal, para esses grupos corrosivos, a dignidade humana significou prejuízo nos seus lucros e invasão de seu espaço elitizado.

Vale ressaltar que a aposta da ala conservadora que não vê nada ao redor, somente seus interesses, sempre foi a manutenção de uma massa pacata e sem forças para reagir. O enfraquecimento da credibilidade da esquerda, sem dúvida, tornaria sua aposta real: não titubearam.

Valendo-se da trágica estrutura política nacional, mantiveram-se em áreas estratégicas e buscaram alianças em nome da democracia, a qual nunca constou em seu dicionário.

Sob a alegação de prática democrática, passaram a pregar a negação dos direitos sociais e a deturpar cada vez mais a visão de igualdade necessária à maioria da população excluída. Para tanto, valeram-se da bandeira do individualismo egoísta, vitimizando a classe média neste contexto, para que se tornasse sua grande aliada.

Essa negação de direitos perfaz algo muito cruel: esmagar a maioria para sustentar uma minoria. Negar à grande maioria da população seus direitos, infelizmente, faz parte da 'herança cultural' brasileira e por isso os grupos corrosivos obtiveram força.

Não há discurso demagógico que derrube a maior verdade sobre o caos social do país. Mesmo assim, desconsideraram a história verdadeira do Brasil em nome de sua bandeira suja e com o apoio da mídia, inflaram o coro de que diversidade é vagabundagem.

Diversidade é o Brasil. São diversos brasis dentro de um só território. Para governá-lo há que se compreender isso e fazer desta visão o foco de seu desenvolvimento. Contudo, em todos aspectos, a diversidade brasileira é ignorada: sejam nos aspectos físicos, sejam humanos.

Sob os alicerces da hipocrisia, iniciaram o boicote à priorização dos direitos fundamentais. Imputaram aos vulneráveis a pecha de aproveitadores e encostados no sistema, desconsiderando todo desequilíbrio social e acenando com ideais neoliberalistas que não têm referencias de valores humanos.

Outrora, no mesmo solo tupiniquim, tais direitos passaram pela mesma distorção. Valendo-se dessa cegueira histórica nacional, os grupos reacenderam a chama preconceituosa no seio social.

Ainda que em um passado e presente de portas fechadas, os excluídos foram tomados como o problema da nação e não como deveria: cidadãos que necessitam de dignidade humana para viver e participar da sociedade brasileira.

Todos que defendem a maioria excluída ganharam rótulos. Uma imagem pejorativa alimentada pelo ódio à diversidade, amparada na visão das velhas oligarquias com a demarcação e o isolamento do delito nas classes marginalizadas.

Dominando o cenário, os mesmos de sempre, alçaram de várias estratégias para anular as conquistas em prol dos excluídos. Não faltaram recursos e personagens oportunistas para o intento.

A retomada ao poder destruindo os sonhos da população, que passaria a ver seus defensores como inimigos, ganhou reforço judiciário em um ambiente embolado, com ausência de provas e direito aos holofotes da mídia, mesmo que a raiz de tudo jamais tenha sido apurada.

Entretanto, a importância na atuação nas áreas sociais provou ser forte, conduzindo Lula ao segundo mandato.

A ira dos grupos corrosivos se tornou crescente. Neutralizar o trabalho da esquerda estava cada vez mais difícil. Apostando em ampliar o desgaste do atual governo face ao sistema político, não mediram esforços e se empenharam em surgir como salvadores da pátria, contando com o apoio da mídia, que assumiu de vez sua parceria junto à direita.

Apegaram-se ao judiciário como bandeira da moralidade. Controversas sentenças levaram à prisão parceiros do governo da esquerda, ainda que sob ausência de provas. Mais uma vez o show midiático deu destaque às investidas da direita, que não aguentava mais a distância do poder.

Toda trama não surtiu resultado nas urnas. Assim, o país fez sua primeira presidenta da república. Sucessora de Lula, Dilma Roussef foi eleita chefe do executivo nacional.

Uma mulher na presidência da república em um país predominantemente machista. Há que se obsevar: os ânimos da ala conservadora nunca viram com bons olhos. Isto sem falar da história de luta contra a ditadura que a política trazia em seu currículo.

Lula sempre foi comunicativo e transitava com facilidade em todos os segmentos, Dilma não apresentou as mesmas características e como consequência passou a ser um prato cheio para os grupos corrosivos que se aproveitaram dessa diferença e partiram para o ataque a sua imagem.

Há quem desconsidere, mas é importante estar atento ao episódio do esquema de espionagem norte-americano em seu governo, evidência clara que a política brasileira, voltada ao social, não agradava interesses externos e contava com aliados em solo tupiniquim. Afinal, por que a Petrobras foi alvo de espionagem?

É preciso estar ciente que o gigante nunca acordou em 2013. O marketing da época acendeu ainda mais a gana dos corrosivos, que com mais aliados a postos, passaram de ataques políticos a agressões misóginas à figura da presidenta, que durante a Copa de 2014 foi exposta ao show de horrores da elite: foram demonstrações claras de falta de educação e respeito ao país.

Incansáveis na disputa pelo poder, os grupos da elite, cada vez mais apoiados pela classe média, que nunca entendeu seu papel na sociedade, perderam as eleições presidenciais de 2014.

Reeleita, Dilma não pode governar. As mesmas urnas que lhe deram a reeleição, trouxeram o poder legislativo mais conservador dos últimos tempos, reforçado pelo aumento de uma bancada evangélica antidemocrática, que potencializou o ódio em relação às políticas sociais.

O bom entendedor consegue compreender que o Estado Laico passou a ser afrontado descaradamente e pautas importantes foram deixadas de lado.

Durante esse tempo, inconformado por perder o pleito, a direita não poupou esforços para invalidar a reeleição da presidenta.

Amparados na mídia e com o apoio da perdida classe média, foram às ruas em 2015 fazendo shows com suas panelas, repletas de imenso vazio ideológico e moral.

Boicotes gigantescos à governabilidade do executivo impediram que providências fossem tomadas na economia. Assim, o reflexo da crise mundial somado com o fim da projeção econômica que possibilitou a implantação do Real, em 94, passou a ser sentido no mercado.

Valeram-se do mote "a culpa é da Dilma" e fizeram do executivo o alvo, ocultando os reais problemas e pondo em prática manobras, para que em nenhum momento a verdade viesse à tona.

A carta magna, foi afrontada, os que deveriam defendê-la se omitiram e permitiram que um processo nulo tivesse continuidade. Assim, as velhas elites, com velhos figurões, assumiram o poder, zombando da força popular.

Nem foi preciso falar de traições, casos de corrupção blindados, delações duvidosas e parcialidade das instituições para entender o cerne da questão: o alvo sempre foi a democracia e todos os direitos que traz em seu bojo.

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